terça-feira, 4 de outubro de 2011

A arte dos Inuits

Por volta de 4000 a.C., nômades conhecidos como o Pre-Dorset ou os  ETAS (tradição pequena ártica da ferramenta) atravessaram o estreito de Bering da Sibéria para o Alasca, no Ártico canadense, Groenlândia e Terra Nova. 

Muito pouco resta da arte deles, e o que resta se constitui em alguns artefatos preservados esculpidos em marfim. A cultura Dorset - que se tornou culturalmente distinta em torno de 600 a.C. - produziu uma quantidade significativa de arte figurativa nos meios de marfim de morsa, ossos, chifres de rena e na pedra - rara ocasião. Era incluída nessa arte a representação de pássaros, ursos, morsas, focas e figuras humanas, assim como máscaras. 

Cerca de 1000 d.C., o povo da cultura Thule, ancestrais dos Inuit de hoje, migraram do norte do Alasca e ou se misturaram ou eliminaram os habitantes anteriores Dorset. A arte Thule teve uma influência definitiva do Alasca, e incluíram objetos utilitários, tais como pentes, botões, agulhas casos, panelas, lanças e arpões ornamentados. As decorações gráficas sobre estes objetos eram puramente ornamentais, sem qualquer significado religioso, mas para fazer os objetos usados ​​no cotidiano atraentes.

Todos os utensílios, ferramentas e armas Inuit foram feitas à mão a partir de materiais naturais: pedra, osso, marfim, chifre, e peles de animais. Como um povo nômade eles podiam carregar pouca coisa com eles além das ferramentas de sua vida diária; objetos não utilitários também foram esculpidas em miniatura para que pudessem ser transportado ou usados​​, tais como brincos delicados, máscaras de dança, amuletos, figuras fetiche, pentes intrincados e figuras que foram utilizadas para contar lendas e objetivar sua mitologia e história oral. 

Uma curiosidade para o nosso leitor é uma revista que fala sobre a atual arte inuíte, a Inuit Art Foundation. Através de seu site é possível fazer a assinatura e ver online algumas páginas da revista, além da possibilidade de comprar algumas obras - de CDs e livros  a quadros e esculturas.

Caso o dinheiro esteja pouco, não tem problema, tem como dar uma olhada nas obras de arte feitas pelos dessendentes inuítes, como essas:

Kananginak Pootoogook's - Aulajijakka - Things I Remember


# 15 - O Nascopie
Aulajijakka (Things I Remember) é uma série de placas que foi produzido no final dos anos 1970, mas foram arquivados até 2010. A série mostra o estilo de Kananginak que é bastante realista, trabalhando os seus temas favoritos. O colorido sutil destaca a excelente qualidade das linhas esculpidas. Desde o início de sua carreira,  Kananginak inspirou-se na vida selvagem do Ártico para compor oas seus desenhos, uma vida que ele conhecia através de seus muitos anos de caça e camping na terra. Ele também gostava de fazer desenhos da narrativa da vida da comunidade ou eventos familiares.


# 12 - Caça de Baleias no meu Kayak

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Em el Ombligo de la Luna - Musica de autoreflexion Luis Perez




O compositor e arranjador Luis Perez Ixoneztli nasceu na Cidade do México, em 1951 e passou boa parte de sua vida estudando as tradições musicais dos grupos étnicos mexicanos. Ele faz uso dos sons de instrumentos dos povos nativos originários de variadas regiões do México mesclando com sons de instrumentos eletrônicos.

Juntou-se a Julio Estrada em 1977 e formou o Grupo Experimental Mexicano, que possuía como marca registrada dar um tratamento eletrônico ao uso de instrumentos autóctones. Trata-se na verdade de uma verdadeira antropologia sonora somada a uma música experimental com pitadas de rock.
Ipan in Xiktli Meztli (nome do álbum em idioma náhuatl) foi a primeira edição do seu disco solo, lançado em 1981 e financiado pelo governo federal – mas o que aconteceu é que eles mais prejudicaram do que ajudaram o Luis Perez, pois o disco não chegou às lojas. Perez providenciou uma nova edição do disco (capa que ilustra a postagem) e teve o merecido reconhecimento.

No encarte do disco aparece a etimologia da palavra México:

Metztli = Lua;
Xiktli = Umbigo;
Ko = indicativo de lugar.

Pois metaforicamente México quer dizer “no umbigo da lua” ou “no centro do lago da lua”, pois o contorno dos antigos lagos que formavam a bacia fluvial mexicana tinha a forma de um coelho, semelhante à silhueta formada pelas manchas lunares vistas da Terra. E como a grande cidade de Tenochtitlan ficava no centro desses lagos, simbolicamente ela estava localizada no umbigo do coelho lunar. 

Em seguida vai a primeira faixa desse álbum para vocês darem uma conferida, chama-se Suite al culto solar - in altepeti tonal:





sábado, 1 de outubro de 2011

Ouros de Eldorado - Arte Pré-Hispânica da Colômbia

A Pinacoteca do Estado de São Paulo em parceria com o Museo del Oro del Banco de la República - Bogotá, Colômbia, ofereceu entre os dias 29 de maio a 22 de agosto de 2010 a exposição Ouros de Eldorado - Arte Pré-Hispânica da Colômbia. 

O Museo del Oro tem cerca de "52 mil objetos pré-colombianos, pelo menos 33,8 mil de ourivesaria, 13 mil de cerâmica e 5,2 mil de madeira, pedra ou tecido que datam de até quase 2,5 mil anos. Inaugurado em 1939, o primeiro artefato da coleção foi um recipiente em ouro utilizado para guardar cal e também em rituais nos quais a cal era misturada à folha de coca para mascar".

Foi a primeira vez que o Brasil expôs peças do Museo del Oro, cuja coleção é considerada a mais importante de ourivesaria pré-hispânica do mundo. São no total 250 artefatos em ouro e 40 objetos arqueológicos de cerâmica e outros materiais também foram apresentados so público na Pinacoteca do Estado de São Paulo. 

A abertura da exposição contou com a palestra da diretora do Museo del Oro, Clara Isabel Botero, com a presença do curador do museu colombiano, Efraín Sanchez e com a estimada presença da María Elvira Pombo Holguín, embaixadora da Colômbia no Brasil. É possível ouvir a gravação da abertura no site da Pinacoteca do Estado de São Paulo. 

Segundo a Clara Botero: “o Museo del Oro tem umas das mais impressionantes coleções de ourivesaria pré-hispânica do mundo e conta com a destreza e criatividade de artistas que tivemos na América antiga em dez séculos. Esta é uma oportunidade ímpar para os brasileiros conhecerem parte desta riqueza”. Para os brasileiros e internautas que não puderam visitá-la nós traçamos um roteiro baseado no folder educativo da própria exposição, passando por todas as salas e destacando uma peça de cada uma delas:

O primeiro tema é o A gente dourada, e a figura escolhida para representar a sala foi o objeto representado ao lado. Ao olhá-lo levantamos as seguintes questões:


O que poderia ser este objeto e qual seria a sua função?


Este objeto faz claramente alusão à figura humana, onde está vestido com alguns adereços, oferecendo-nos indícios sobre o tipo de vestimenta utilizado. Surge outra questão:


Que personagem você diria que esta peça representa?


Esta peça foi criada para ser utilizada como oferenda aos deuses, portanto pode-se considerá-lo como uma figura votiva. Objetos como este, denominados de tunjos, irão aparecer na forma de homens, animais e até armas, mas as figuras humanas são os mais frequentes tipos de tunjos. Eram feitos em sua maioria com lâminas simples de ouro, com superfícies decoradas com variados detalhes, juntamente com fios de ouro fino.


Essa figura representa de forma referencial direta ao nome da exposição, El Dorado (o homem dourado). Ela pertence ao povo muísca que, segundo registros históricos, costumavam jogar objetos de ouro no lago - até então conhecido como Guatavita, próximo a Bogotá, possuindo um importante significado religioso para eles. Na verdade, tratava-se de um dos rituais desenvolvidos por este povo para manterem uma maior aproximação com os deuses.

Mister No - Mythus 7 (ed. brasileira) -
Eldorado - A Maldição do Ouro

Foram esses relatos que deram origem ao mito do El Dorado - lugar onde se encontrariam grandes tesouros. Provavelmente vocês já ouviram algo sobre esse mito que, no século XVI causou um enorme impacto na imaginação de muitos europeus. Na esperança de achar tesouros, os espanhóis, realizaram - sem muito sucesso - várias expedições a diversos locais onde estaria supostamente o El Dorado. A obsessão em encontrar esse lugar foi tanta que, no século XVI, os espanhóis realizaram duas tentativas - em 1545 e em 1580 - de secar o lago Guatavita na esperança de encontrar tesouros. Esse mito ilustra a imaginação de várias pessoas até hoje e está presente inclusive em filmes (como Aguirre - A Cólera dos Deuses do diretor Werner Herzog) e em quadrinhos (como o da série Mister No - ao lado).


Dando continuidade à nossa visita virtual, a próxima sala, denominada de Animais fantásticos, destacamos a seguinte peça:



Serão encontradas nessa sala a representação de animais como cobras, jacarés, rãs, morcegos e macacos. Mas a imagem ao lado é um objeto desenvolvido na forma de pássaro, criado para ser encaixado na extremidade de um bastão ou cetro.

Os povos ameríndios costumavam observar as características dos animais e era através dessas observações que criavam representações bastante detalhadas. Os mitos envolvendo pássaros - como na peça ao lado - são encontrados em todas as Américas e sabe-se que além de representar as aves em objetos, as suas penas eram objeto de troca entre diversos grupos indígenas, localizados entre as terras altas (Andes) e as terras baixas (Amazônia), deslocavam-se em grandes distancias para trocarem entre si as penas das mais diversas aves.


É importante destacar a mitologia em cima desses animais, e inclusive em torno de aves como o tucano, condor, periquito, águia, gavião, perdiz, etc. Era comum também a mistura de animais em um mesmo objeto. A próxima peça - da sala O homem animal - representa bem isso:


O que essa figura representa? 
O que a figura parece estar fazendo?


A figura ao lado foi desenvolvida por outro povo, os tolimas, para ser utilizado e pendurado na altura do peito. Figuras como essas são chamadas de antropozoomorfas, pois misturam características humanas e animais. 

Na figura podemos identificar asas abertas, semelhantes à de aves em voo, bem como outras características que sugerem as de outros animais, como as saliências laterais que podem representar pernas e uma cauda bipartida.


A importância do pássaro para os povos ameríndios pode ser representada pela presença do xamã. O pássaro está em dois mundos: o céu e a terra, o xamã é a ligação entre os dois mundos - o plano físico e o plano espiritual. Ao entrar em transe é como se o xamã se transformasse em outros seres desse universo. Neste transe ele entra em uma condição transitória entre diferentes dimensões que estão representadas no peitoral tolima e alguns outros objetos antropozoomorfos expostos. A sessão O homem animal é dedicada especialmente à esses tipos de representações. Os xamãs, dentro do grupo, desempenham diversas funções, como o curandeirismo, eles dirigem rituais, conhecem as genealogias e as mitologias, mas são, além disso, políticos habilidosos, grandes conhecedores da natureza e tomam importantes decisões referentes à conservação dos recursos naturais. Funcionam ainda como mediadores de conflitos sociais e têm um importante papel na solução de problemas individuais.

Da próxima sala, denominada de Abstração e natureza, nós podemos destacar essa peça:
Você reconhece o material com o qual essa peça foi feita?  Que importância poderia ter um objeto de material diferente em um ambiente em que o ouro predomina? Os ameríndios além de conhecedores de técnicas de metalurgia, também dominavam outros processos, como a tecelagem ou a cerâmica, que se trata do caso desta peça. Não exigindo apenas  ao talento da pessoa que trabalha com esse tipo de material, a cerâmica também exigia ao conhecimento sobre a queima do barro. Isso nos mostra o quão diversificado eram os objetos produzidos pelos ameríndios, seja na produção com uma finalidade religiosa como na produção utilizada para o dia a dia. O nome do módulo é Abstração e natureza, pois nele podemos identificar entre os objetos desta sala, tanto formas que não estão associadas a realidade como outras que, como é o caso desta peça, fazem uma referência direta á natureza.

Especialmente neste caso, chamamos o artefato de fitomorfo, ou seja, que tem estrutura semelhante à das plantas e ao observar este e outros objetos deste módulo, ficará evidente que realidade e abstração se misturam. 

No proximo módulo de exibição - O universo das formas - foi selecionado o objeto ao lado.

É importante ressaltar que não só os xamãs utilizavam objetos de ouro, e eles eram vistos em outros indivíduos como, por exemplo, no chefe do grupo ou em um guerreiro, seja em rituais como em cerimônias públicas. Distinta de nossa organização atual havia uma hierarquização no grupo, uma vez que esta que possuía uma forma diferente de entender a sociedade e as relações de poder.

A diferenciação social desses povos poderia ser atribuída e/ou conquistada e baseava-se nas virtudes ou nas ações praticadas, seja no âmbito social, religioso ou militar. Entendiam a organização da sociedade do mesmo modo que viam a organização da natureza e dos mundos sobrenaturais, sem sobreposições baseadas em importâncias, mas coexistindo.

O ouro estava associado ao prestígio, mas o que tem que se entender é o valor simbólico que este metal representava para esses povos, pela potencial relação que ele estabelecia com as divindades. Por isso são encontrados em sua maioria em sepulturas ou lugares específicos, destinados a cerimônias.

Este objeto em específico foi confeccionado para ser utilizado por mulheres, o que significa os círculos posicionados de modo semelhante aos seios, mostrando assim como não havia, necessariamente uma relação entre o prestígio e o sexo, existindo inclusive registros de mulheres xamãs.

Dando continuidade à nossa visita, no módulo intitulado de A metalurgia e as sociedades pré-hispânicas, destacamos a peça ao lado.

É possível ao olhar esta peça levantar dois questionamentos: que animal ou animais você identifica neste pingente? Como teria sido realizada esta peça?

Apesar de ser pequena, fica evidente ao observarmos este objeto que o processo de confecção foi bastante complexo. Trata-se de um pingente zoomorfo - que neste caso uni os  dois animais principais da mitologia dos povos nativos: o felino e o pássaro que, na mitologia dos índigenas do Brasil também possuem uma presença frequente.

Os índios bororos, no Brasil, por exemplo, acreditavam que partes do jaguar (como um dente, por exemplo) tinham o poder de funcionar como talismãs. Em alguns rituais, índios bororos vestam peles de jaguar e dessa forma incorporavam atributos e qualidades.

É possível perceber ao comparar todas essas peças que elas não possuem a mesma tonalidade, isso se deve ao grau de pureza da peça, por exemplo, para obter um aspecto mais ou menos dourado, misturava-se ao ouro quantidade maiores ou menores de cobre. Essas diferentes tonalidades apresentavam uma importância simbólica.

O povo desana, do rio Uruapés, Amazônia, distingue pelo menos doze tonalidades entre o amarelo e o avermelhado. Tons mais claros de amarelo são assossiados a aspectos ou elementos benefícos, enquanto os tons mais puxados ao cobre são geralmente assossiados ao perigo e às enfermidades.

O ouro é um dos metais mais maleáveis e também é conhecido pela sua alta durabilidade. Além disso, esse metal possui grande capacidade de reflexão da luz e quando se tocam produzem diferentes e belos sons. Como técnica metalúrgica eles também usavam a colagem e a solda, que permitiam a união de peças diferentes, criando assim a sensação de volume.

Esses foram os módulos da exposição Ouros de Eldorado - Arte Pré-Hispânica da Colômbia. E caso o leitor não tenha tido a oportunidade de vê-la pessoalmente ,pode ver algumas peças do Museo del Oro neste vídeo aqui:



Ou ainda visitar o Museo del Oro (sim, é possível fazer isso da sua sala) pelo site de visita online ao Museo del Oro. 


Segundo a historiadora Marcia Arcuri - assessora científica da mostra, ao falar sobre a importância da mostra, diz:
O ineditismo da exposição se dá por ela referenciar a diversidade étnica e cultural dos povos que ocuparam a antiga região da Colômbia e a importante relação estabelecida entre eles e tantos outros grupos indígenas das terras baixas da América do Sul, sobretudo as interações entre povos que ocuparam preteritamente a Amazônia Ocidental.



Utilizamos como fonte para esta postagem os seguintes sites:

- O site oficial do Museo del Oro
- Wikipédia - Gold Museum - Bogota
- Bogota Travel Guide - Museum of Gold
- Guia do estudante Abril - Museo del Oro
- O site da Pinacoteca do Estado de São Paulo


 - Folder educativo -ao lado - (elaborado pela Cristina Bertazoni e pelo Leandro Romam) da exposição realizada na Pinacoteca do Estado de São Paulo.


Todas as imagens (exceto a do Mister No) utilizadas na postagem foram retiradas do folder.
 


sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Vestuário dos povos andinos

A tecelagem dos povos nativos americanos (no período pré-conquista européia) possuía um alto nível de qualidade e beleza, e o território mexicano foi o responsável, sem dúvida, por ter confeccionado tecidos esplêndidos. Podemos constatar isso pelos afrescos descobertos e por cenas de vasos, já que a umidade e o calor próprios do clima da região acabaram por desintegrar estes tecidos.
Vendo por esse aspecto, o território do Andes foi o mais favorecido, pois graças a areia do litoral seco do Pacífico, um repertório completo de modelos de tecelagem foi conservado nas sepulturas. Os indivíduos da alta categoria eram enterrados em trajes de cerimônias, depois de enrolados em tecidos que continham vasos e objetos que lhes tinham pertencido. O conjunto era ainda envolvido em um tecido de valor menor.

Os mais antigos tecidos - que se encontram na zona litoral - foram confeccionados no começo da era cristã e apresentam o mesmo grau de perfeição e a mesma variedade de técnicas dos que foram usados mais tarde. A única "evolução" que houve foi em relação ao estilo. Como matéria-prima usavam bastante o algodão, enquanto que nos planaltos andinos usavam mais o pelo de lhama, guanaco, alpaca e a vicunha, que forneciam uma lã muito resistente. A da vicunha, por exemplo, apresentava maciez e o brilho da seda. À da alpaca misturava-se muitas vezes ao algodão.

Esses tecidos eram feitos com uso dos teares - que se compunham habitualmente de um pau meio polido, fixo entre dois postes a uma árvore ou a um muro. A outra extremidade era terminada por um cinto, onde dessa forma o artesão podia esticar ou desapertar o aparelho. A largura desse tecido não podia ser muito maior que o comprimento do braço - ou seja, cerca de 75 centímetros.

Certas civilizações peruanas confeccionavam tecidos com mais de 1 metro e 50 centímetros de largura, supõe-se por isso que eles confeccionados em grandes teares ou que era trabalhado simultaneamente por várias pessoas. Era praticamente uma indústria têxtil! Escavações trouxeram à luz as seguintes variedades: brocado, crepe, damasco, gaze, cotim, veludo, tapeçarias murais de várias espécies, malha circular ou retilínea, voile, croisé e numerosas variedades de rendas e bordados. Para tingir eles usavam cores minerais, vegetais e animais.  

É no cemitério de Paracas, situado numa península a meio da costa do Peru, que  se encontram em suas jazidas mais ricas vestígios dos mais variados tecidos. Esses tecidos, ao que parece foi usado durante vários séculos como necrópole de personagens de alta categoria. Encontraram-se ali várias espécies de túmulos sobrepostos, até uma profundidade relativamente grande.  Vários tecidos das mais variadas formas foram encontradas em sepulturas, com diferenças claras no estilo e no motivo. Como as olarias, são classificadas segundo os lugares onde foram descobertos, os grupos de civilizações a que pertenciam, ou segundo os desenhos e motivos usados.

Apesar do Paul Westheim e do Pál Kelemen generalizarem e fazerem referência a um vestuário "pré-colombiano" podemos entender que boa parte do vestuário desses nativos americanos compunha-se de uma longa faixa de tecido enrolada em volta do dorso e rins, cujas extremidades ornamentadas caíam em pregas à frente; uma túnica cuidadosamente trabalhada, a que os espanhóis chamaram de poncho ou camisa; uma longa écharpe e um barrete ornado de motivos a condizer com os do vestuário. Encontraram-se também gigantescos xalés e chapéus. 

O que é importante destacar é que as vestes da aristocracia inca eram muito variadas, algumas são abstratas compostas de quadrados e de linhas que parecem degraus de escada e outras representam pássaros estilizados e silhuetas humanas. Empregavam de maneira engenhosa franjas, rosáceas, fios de lamés e também cobriam os tecidos com discos ou placas de metal e também com penas.

Esse processo manual é bastante comum no Peru. E ao andar pelas redondezas do Parque Nacional Manu, por exemplo, você ainda encontra senhoras que fabricam e vendem estes tecidos de lã bem coloridos. A lã é toda processada manualmente e  é utilizado ervas para produzir as cores para assim tingi-los antes de começar a tecer. A habilidade manual para fabricar estes tecidos é incrível e o seu trabalho é muito bem feito! 

Porém tem uma curiosidade que nem todos sabem: alguns tecidos são tingidos com urina fermentada para produzir algumas cores!



Bibliografia:

WESTHEIM, Paul; KELEMEN, Pál. Arte Ibero Americana. Lisboa: Editorial Verbo, 1971.



Antropologia e arte indígena

Quando nos propomos a pensar a arte indígena devemos levar em consideração a proximidade da História da arte com a Antropologia, é a partir desse segundo campo que se pode pensar a cultura do que eles caracterizam como povos não-ocidentais ou primitivos (CARDOSO, 2009).

Aprende-se, nos livros didáticos nas escolinhas e, bem depois, no ensino médio, uma ideia muito estereotipada do índio ou dos índios. Divulgou-se sempre uma imagem dos povos indígenas como homogênea, sem muita diferença do ponto de vista fisionômico, anatômico e cultural. Ou seja, como se todos venerassem um único e mesmo deus, uma mesma crença ou ritual. A diversidade cultural e de formas de vivências eram características desses povos.

Segundo Vidal as manifestações simbólicas estéticas para a compreensão da vida em sociedade das tribos brasileira sofrem o não reconhecimento de seu valor até a década de 1960, momento que recebe “impulso em bases teóricas e metodológicas renovadoras, levando paulatinamente, a uma formulação mais ampla em nível da pesquisa, do ensino, da organização do material visual nos acervos e museus, das exposições, dos recursos audiovisuais e das publicações específicas” (VIDAL, 2000, p. 13).


Geertz (1997), lembra que é difícil falar de arte, pois a arte parece existir em um mundo próprio, que o discurso não pode alcançar. De outra parte, a compreensão da arte revela, também, as suas consequências:


Em quase todo o mundo, fala-se da arte em termos que poderíamos chamar de artesanais – progressões de tonalidades, relações entre as cores, ou formas prosódicas. Esta tradição é ainda mais comum no Ocidente, onde temas como harmonia ou composição pictórica desenvolveram-se de tal forma que passaram a ser considerados como ciências menores e onde o movimento moderno, orientado para um formalismo estético cujo melhor representante no momento seria o estruturalismo, ou para os vários tipos de semiótica que buscam seguir-lhe os passos, não são senão uma tentativa de generalizar esta maneira de ver a arte, tornando-a mais abrangente, e elaborando uma linguagem técnica capaz de expressar as relações internas entre mitos, poemas, danças ou melodias em termos de abstratos e permutáveis (GEERTZ, 1997, p. 144).

O sentimento de um indivíduo e o sentimento que um povo tem pela vida pode ser transmitido pela arte, mas não é transmitido unicamente por meio da arte, mas, surgem vários outros segmentos da cultura deste povo: na religião, na moralidade, na ciência, no comércio, na tecnologia, na política, nas formas de lazer, de direito e na organização da vida prática e cotidiana.

Discursos sobre arte que não sejam meramente técnicos ou espiritualizações do técnico [...] têm, como uma de suas funções principais, buscar um lugar para a arte no contexto das demais expressões dos objetivos humanos, e dos modelos de vida a que essas expressões, em seu conjunto, dão sustentação (GEERTZ, 1997, p. 145).

A proximidade da Antropologia com a História da Arte possibilita essa nova perspectiva sobre a arte, no qual ela pode ser visto dentro de contexto histórico, social e cultural. É somente nessa nova concepção que arte indígena é objeto de estudo.


Bibliografia:

CARDOSO, R. A história da arte e outras histórias. In: Cultura Visual, n. 12, outubro/2009,
Salvador: EDUFBA, p. 105-113.
GEERTZ, C. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
VIDAL, L. (org). Grafismo indígena: estudos de antropologia estética. 2. ed. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP: Ed da Universidade de São Paulo, 2000.